sábado, 7 de março de 2020

DOR FACIAL

( Texto de apoio a aula de dor facial da Pos Graduação em Dor da Universidade Católica Portuguesa - 2020 - este texto não evita a consulta da bibliografia aconselhada)  )


DOR FACIAL
…. A sensação  a que chamamos dor é a mais complexa e diferente de todas as modalidades sensoriais…
          Wall  & Melzack, Textbook of Pain, 4th ed, 2000

DESCARTES ( SÉC. XVII)
Racionalismo Cartesiano
Estímulo periférico nóxico  
Impulso nervoso (hipófise) 
Geração de uma resposta motora de defesa

Diferentes Sensores Periféricos
Diferentes vias
Diferentes dores

Leriche (1879-1955) 
Beecher (1904-1976)
Incompatibilidade entre as lesões de vias nervosas e a sintomatologia.
Variação individual da percepção da dor. 

 David Livingstone (1813-1873)
SHERRINGTON (1932)
“The Integrative Action of the Nervous System”
SENSAÇÃO 
PERCEPÇÃO 
NOORDENBOS  1959
Cada célula do corno posterior da medula efectuaria múltiplas sinapses com outras células 
“…Within unknown limits everything synapses with everything else…”

A Teoria do “GATE CONTROL”
BONICA J.J. (1970s)
A estimulação eléctrica ou química ( opióides) da substância cinzenta periaqueductal induz uma profunda e selectiva analgesia que é abolida com naloxona.

MODELO MECÂNICO BIOMÉDICO
MODELO BIOPSICOSSOCIAL

DEFINIÇÃO
A dor é uma experiência emocional e sensorial desagradável, associada a danos teciduais existentes ou potenciais ou descrita em termos de tais danos…
 International Association for the Study of Pain
DOR FACIAL

Considerações emocionais
Considerações psicológicas

CONSIDERAÇÕES EMOCIONAIS 
Face:
Expressão 
Comunicação 
Gratificação

CONSIDERAÇÕES PSICOLÓGICAS 
Excesso de actividade
Ansiedade 
Medo
Raiva 
Depressão 
…….

REDES DE PERCEPÇÃO DA DOR FACIAL
Trigémio
Glossofaringeo
Vago
Rede cervical do simpático
Rede cervical do parassimpático

TRIGÉMIO
Fibras sensitivas:        
Ramo oftálmico
Ramo maxilar
Ramo mandibular
Fibras motoras: 
Músculos da mastigação

AURICULO TEMPORAL

GLOSSOFARINGEO  
Base da lingua.
Orofaringe posterior
Nasofaringe
Ouvido médio

CONEXÕES NEUROLÓGICAS FACIAIS 
Trigémio com rede cervical de C1, C2, C3, até C7.
Dor facial de etiologia cervical
Dor cervical por patologia facial
Glossofaringeo e trigémio     
Patologia intra oral com dor da ATM e auricular ( e vice / versa)

 DOR FACIAL ( classificação)

DIAGNÓSTICO DA DOR FACIAL (1)
História médica anterior:
Doenças sistémicas.
Medicação anterior.
Problemas neurológicos anteriores.
Problemas psiquiátricos.
Doenças do tecido conjuntivo.
Processos inflamatórios crónicos.
Traumatismos maxilofaciais.

DIAGNÓSTICO DA DOR FACIAL (2)
Diagnóstico do componente principal da queixa:
                        - Localização da dor.
                        - Tipo de dor
                        - Intensidade  da dor.
          - História e cronologia da dor.
                        - Sintomas associados.

PADRÕES DE IRRADIAÇÃO DA DOR
Patologia do olho: 
temporal e maxilar.
Patologia do ouvido: 
mandíbula,                           
orofaringea
área pós auricular.
Patologia dentária mandibular: 
ouvido.
Patologia nasal e paranasal: 
malar, temporal,
pré auricular 
supra orbitária.
Patologia cardiaca: 
mandíbula, pescoço.

DIAGNÓSTICO DA DOR FACIAL (3)
Exame objectivo:
Exame geral.
Exame da cabeça e pescoço.
Exame da cavidade oral e orgãos anexos
Exame dos pares cranianos.

EXAME GERAL
Postura

EXAME DE CABEÇA E PESCOÇO
Palpação muscular
Músculos mastigadores
Pesquisa de trigger points
Exame da articulação temporo mandibular

EXAME DA A.T.M.
Movimentos de abertura e encerramento da boca
Palpação da articulação
Auscultação da articulação

EXAME GERAL
Exame objectivo:
Exame geral.
Exame da cabeça e pescoço.
Exame da cavidade oral 
Exame dos pares cranianos.

Estomatologista
Caries dentárias
Recções peripaicais
Periodontopatia
Traumatismos de oclusão

DIAGNÓSTICO DA DOR FACIAL 
Exames complementares:
Radiologia convencional.
TAC.
RMN.
Electromiografia.
Testes de bloqueio nervoso.

PROTOCOLO PARA TESTES DE BLOQUEIO NERVOSO
INJECTAR 0,5 CC DE SORO FISIOLÓGICO NA ZONA DOLOROSA
(AGUARDAR SEMPRE 5 MINUTOS)
      ALIVIO                                           PERSISTENCIA
(PSICOGÉNICA)                                   INJECTAR 0,5CC DE LIDOCAINA 0,5%
                        ALIVIO                                     PERSISTENCIA
(TERAPÊUTICA DIRECTA)                   INJECTAR  0,5CC LIDOCAÍNA 2%
                        ALIVIO                                     PERSISTENCIA
(MUSCULO ESQUELÉTICA)                 REPETIR PROTOCOLO A PROXIMAL 
                        ALIVIO
(TERAPÊUTICA DIRECTA                                 PERSISTENCIA 
NO LOCAL)                              CONSIDERAR LESÃO DO SNC OU
                                                            DOR PSICOGÉNICA)    
INICIAR  SEMPRE  A  INFILTRAÇÃO DE  ANESTÉSICO  NA  ZONA  MAIS SUPERFICIAL,  PASSANDO  DEPOIS PARA  AS  ZONAS  MAIS  PROFUNDAS DEPENDENTES  DE  ZONAS NERVOSAS  MAIS  PROXIMAIS

ALGUMAS ORIGENS DE DOR FACIAL
Origem primária muscular.
Origem óssea.
Origem vascular.
Origem neurogénica.
Origem oftálmica.
Origem auricular.
Origem nasal ou paranasal.
Origem nas glândulas salivares.
Origem odontogénica.
Origem psicogénica.
Origem A.T.M.
Origem traumática
ALGUMAS ORIGENS DE DOR FACIAL
Origem primária muscular.
Origem óssea.
Origem vascular.
Origem neurogénica.
Origem oftálmica.
Origem auricular.
Origem nasal ou paranasal.
Origem nas glândulas salivares.
Origem odontogénica.
Origem psicogénica.
Origem A.T.M.
Origem traumática

DOR DE ORIGEM MUSCULAR
É a causa mais comum depois da odontogénica.
Componente psicofisiológica muito importante.
História de alterações emocionais, parafunções, traumatismos, alterações da oclusão.
Região da ATM, pré auricular, angulo mandibular.
Dor tipo opressão, podendo ter intensidade máxima matinal ou durante as refeições.
imitação da abertura, desvios de abertura e fecho, subluxação ou dificuldade de mastigação.
TERAPÊUTICA DA DOR MUSCULAR
Eliminar parafunções
Reeducação alimentar.
Tratamento oclusal.
Relaxamento e biofeedback.
Miorrelaxantes.
Infiltrações com anestésico.

DOR DE ORIGEM ÓSSEA
Osteomielite e outras infecções (sífilis, actinomicose, tuberculose).
Muito intensa, nas estruturas ósseas, constante. Localizada, acompanhada ou não de fistulas ou edemas.
Mais intensas quando originadas abaixo da linha de implantação do cabelo.
Com ou sem sintomatologia geral.
TERAPÊUTICA DA DOR DE ORIGEM ÓSSEA
Tratamento etiológico.
Tratamento paliativo.
Tratamento preventivo.

DOR NEUROGÉNICA
NEVRALGIA DO TRIGÉMIO:
Intensidade elevada, duração de segundos ou minutos.
Pode ser desencadeada por estimulação de trigger zone.
Confinada ao território de enervação do trigémio por norma unilateralmente.
Por norma sem deficits sensitivos ou motores.
Mais frequente na mulher na 6ª década.
Mais frequente à direita.
Tratamento: Carbamazepina, neurectomia cirúrgica ou química, termoneurólise, termogangliolise, descompressão microvascular da raiz nervosa.

DOR NEUROGÉNICA
NEVRALGIA DO TRIGÉMIO:
Despistar causas compressivas.
Despistar infecções associadas
Tratamento: 
Carbamazepina, 
Fenitoina
Gabapentina
Pregabalina
neurectomia cirúrgica ou química,    
termoneurólise, 
termogangliolise, 
descompressão microvascular da raiz nervosa.

DOR  COM  ORIGEM  NAS  GLANDULAS SALIVARES
Sialoadenites, sialoadenoses e sialolitiases.
Desencadeada ou agravada pelo estimulo alimentar.
As neoplasias apresentam sintomatologia tardia e com alterações neurológicas.

DOR  ODONTOGÉNICA
ESMALTE.
DENTINA.
DOENÇA PULPAR.
ABCESSO PERIAPICAl.
PERIODONTITE.
ALVEOLITES

DOR  POR  LESÃO  DO  ESMALTE
Não existe realmente dor do esmalte aparecendo por exposição da dentina.
Fissuras, desgastes e fracturas.

DOR  POR  LESÃO  DA  DENTINA
Dor aguda desencadeada pelo frio, quente ou alimentos frios.
Mantém-se com a permanência do estimulo.
Causas: 
Cáries dentárias.
Traumatismos.
Infiltração das obturações.

DOR  PULPAR
Idêntica à dor dentinária mas com duração para alem da retirada do estimulo.
Dor tipo moinha com duração prolongada que pode ser agravada por estímulos.
Aumenta durante a noite e melhora ao levantar.
Expontânea, muito intensa, duração curta e recidivante.

PERIODONTITE
Dor mantida com:
Inflamação local.
Inflamação regional.
Adenopatias.
Frequente a irradiação

DOR DA A.T.M.
Disfunção Temporo Mandibular
Percentagem da população com sinais:
   50 a 70%.
Percentagem da população com sintomas:
   20 a 25%.
Percentagem da população que procura o médico para tratamento: 
   3 a 4%

INCIDENCIA  POR  SEXO
1:1 para a prevalência de sintomas na população em geral.
5:1 mais prevalente no sexo feminino para a população que vai ao médico.
ETIOLOGIA
Multifatorial.
Factores predisponentes e factores desencadeantes.
Alterações psicológicas, para funções, oclusão, traumatismos...

SINDROME  DISFUNCIONAL DOLOROSO
 Dois ou mais dos seguintes sinais e/ou sintomas:
Dor a palpação na articulação.
Dor a palpação dos músculos.
Limitação ou desvio do movimento mandibular.
Ruídos articulares.
TRATAMENTO DA D.T.M.
TALKING MEDICINE !
OPÇÕES TERAPÊUTICAS
Aconselhamento.
Fisioterapia.
Farmacoterapia.
Analgésicos
Miorelaxantes
Antidepressivos
Splints e terapêutica oclusal
Artrocentese.
Cirurgia (Artroscópica ou não).
DOR  POR  TRAUMATISMO
.
PATOGENIA DA D.T.M. PÓS TRAUMA 
Efeito sobre os músculos :
Libertação de mediadores inflamatórios ( Ptg E2 e Leucotrienos B4)
Alteração do tempo de resposta muscular
Alteração da taxa de alongamento muscular
Factor de protecção anti doloroso
Alteração associada a outros traumatismos ( postura...)
PATOGENIA DO TRAUMA NA D.T.M.
Efeito sobre o disco e sinovial:
Alteração da distribuição de stress em carga.
 Diminuição do liquido sinovial.
Alteração do valor de fricção após trauma.
Efeitos inversamente proporcionais a espessura do disco
                                                                                               Nicckel J.C. et al., 2001
PATOGENIA DO TRAUMA NA D.T.M.
Efeito sobre a cartilagem, sinovial e tecido fibroso
Processo degenerativo
Hemorragia
Produção de mediadores inflamatórios: PGE2 e LTB4
                                                     
                                                 Yun and Kim; 2005

TRAUMATISMOS DA MANDIBULA
A D.T.M não está associado ao tratamento efectuado ( bloqueio ou sem bloqueio)
A situação clinica pode manter-se durante um tempo longo com queixas residuais 

GOLPE DE CHICOTE
Hipersensibilidade do sistema nervoso central por hiperexcitabilidsde da espinal medula.
Distensão exagerada dos músculos cranio faciais.
Luxação com redução do disco.
Factores emocionais associados

J Am Dent Assoc. 2007 Aug;138(8):1084-91.
Delayed temporomandibular joint pain and dysfunction induced by whiplash trauma: a controlled prospective study.
Salé H1, Isberg A.
A longo prazo o risco de DTM é cinco vezes maior quando existe história de “golpe de Chicote”
Mais frequente na mulher
Em 20% dos acidentados a queixa mais importante foi a dor na ATM
“Awareness of a significant risk for delayed onset of TMJ symptoms after whiplash trauma is crucial for making adequate diagnoses, prognoses and medicolegal decisions”

TERAPÊUTICA DA DTM AGUDA PÓS TRAUMATISMO
Conservadora.
Aconselhamento
Fisioterapia.
Manipulação .
Calor húmido 
Terapêutica  fisica.
Fármacos 
Analgésicos
miorelaxantes, 
AINE´s(?)
Terapêutica oclusal de relaxamento

CONCLUSÕES
DIAGNÓSTICO:
Definição correcta da dor.
História clinica completa.
Exames complementares adequados.
Discussão com o médico assistente.
TERAPÊUTICA:
Informação completa do doente.
Integração dos dados do diagnóstico.
Terapêutica etiológica.
Terapêutica paliativa.


DENTES INCLUSOS - TERCEIROS MOLARES ( TEXTO DE APOIO)

( texto de apoio aos alunos do XIX Curso de Cirurgia de Dentes Inclusos  do IUEM ( 2021 - Janeiro>) Francisco Salvado e Silva R. Fialho d...